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— Na última época, em que jogou menos devido a lesão, o Saragoça lutava pelo quarto lugar e pela Champions... e desceu de divisão. Como explicar tamanho fracasso?
— Não há explicação. A única que encontro é a de que não conseguimos jogar como equipa. Tudo o que poderia correr mal, sucedeu. Mas porque não conseguimos formar uma equipa. É impossível jogar bem quando não o conseguimos. A lesão e descer de divisão são os momentos mais tristes da minha carreira.
«Não estou na curva descendente»
— Que diria aos que insinuam ou temem que esteja na curva descendente da carreira? Vamos ver o Aimar dos tempos de Valência?
— Não me sinto na curva descendente da minha carreira, nada disso. Tenho 28 anos, sinto-me muito bem, treino-me bem todos os dias. Comecei a treinar-me ainda em Saragoça, sinto-me na plenitude das minhas capacidades.
— Mudar da liga espanhola, uma das mais competitivas do Mundo, para Portugal, não o encara como um passo atrás? Para mais, tendo a hipótese da liga inglesa...
— Sim, mas não era um clube grande! E o Benfica é um grande!
— Que lhe parece o plantel do Benfica, bastante numeroso ainda, por estes dias, mas com reforços ainda por chegar? Que jogadores já conhecia ou tivesse visto jogar?
— Têm muita qualidade. Pessoalmente, já defrontara Luisão, não muitos mais. Ainda falta ver e conversar com Di María. Mas tenho aqui muitos companheiros para 'desenferrujar o castelhano, como Maxi Pereira, Cardozo, Balboa... E ainda não conversei com Di María.
— Já conhecia Balboa...
— Claro, defrontámo-nos em Espanha. É um jogador muito forte.
«espero desfrutar do futebol... e ganhar!»
— Aos 28 anos, e no quarto clube que representa na sua carreira, depois de River Plate, Valência e Saragoça, o que espera conseguir no Benfica? Êxitos desportivos, títulos?
— Espero desfrutar do futebol... e ganhar! Este é um clube acostumado a ganhar.
— Rui Costa considerou-o, a par de Deco e Riquelme, dos melhores «números dez» da actualidade. Que jogadores admira nessa posição?
— Gosto muito de Riquelme. Deco também, entre outros.
— E quem é, para si, o melhor jogador da actualidade?
— Messi.
— Cristiano Ronaldo e Kaká são um pouco maiores, mas também Aimar não é de estatura elevada... como Maradona não era.
— É verdade. O tamanho não conta muito.
— Também se falou da hipótese de Saviola vir para o Benfica. Jogaram juntos na selecção e no River Plate. Seria bom?
— Falámos só por telefone, mas não sei detalhes. Está no Real Madrid, que é uma grande equipa, não sei o que vai decidir para o seu futuro. Perguntou-me se estava bem, se estava adaptado à cidade. A sua preocupação era para comigo, não falámos do Benfica em concreto.
— Como é reencontrar Quique Flores? Certamente que também o treinador teve um papel fundamental na sua decisão...
— Sim. Falou-me muito bem. Também Pako [Ayestaran] falou comigo, assim como Fran Escribá e Emílio Alvarez. Trabalham muito bem, conheço-os, e disseram-me que teria todas as condições.
— Poderia ter-se informado com Miguel, Hugo Viana e Caneira, seus companheiros de equipa no Valência. Guarda boas recordações? Agora defrontará Caneira no rival, Sporting...
— São grandes pessoas, especialmente Miguel e Hugo Viana, que conheci mais de perto, bons amigos e companheiros. Também me cruzei com Caneira. Vim, com toda a equipa do Valência, ao funeral da sua filha, um acontecimento trágico. Agora vou reencontrá-lo como rival, é verdade, mas ainda não falámos. Dar-lhe-ei um abraço.
— Roberto Ayala, seu compatriota e companheiro no Saragoça, também foi apontado como reforço do Benfica. Gostava que viesse?
— É o melhor defesa do Mundo!
— Depois de uma má temporada, os adeptos do Benfica sonham muito com a conquista do título...
— O Benfica acabou em quarto a Liga, mas sei que tem de ser primeiro! Sempre! O lugar do Benfica é na Champions, acredito que os adeptos tenham essa esperança. Mas queixam-se de que tiveram uma temporada muito má, a última? Que direi eu e o Saragoça?
— O que pode prometer aos milhões de adeptos do Benfica?
— Esforço, trabalho e empenho. É um compromisso com a equipa e com as esperanças que os adeptos depositam nela. Mas oxalá possa conseguir muito mais, vamos ver o que acontece.
— Sabe que, em Portugal, muitos argentinos só brilharam depois de uma época de adaptação, como Beto Acosta ou Lisandro López. Mas, pelos treinos, vê-se que está adaptado. É assim?
— Sim. Desde o primeiro dia.
A QUALIDADE DO FUTEBOL ARGENTINO
— Como será reencontrar tantos compatriotas no nosso País? Di María, Grimi, Romagnoli, Lisandro, Lucho, Mariano, Farias... Falou com eles?
— É um sinal da qualidade do futebol argentino. Cada vez mais saem, embora alguns estejam a voltar, como Verón e Riquelme. É normal, porque muitos saem para a Europa antes dos 20 anos, bastante novos. Mas ainda não falei com os meus compatriotas que estão noutros clubes... Só espero terminar o campeonato à frente deles.
— Gostava que Luis García lhe seguisse as pisadas? Fala-se que é o próximo alvo...
— Luis García é... um craque! Sempre foi. Mas sobre a possibilidade de vir para o Benfica nada sei.
— Como foi estrear-se tão novo, aos 17 anos, no campeonato argentino, pelo River Plate?
— Muito bom. A equipa principal disputava as meias-finais da Taça Libertadores da América. Tinha Francescoli, Ortega, Salas. Eu alinhei no campeonato, era das reservas, mas aos 17 anos Ramon Diáz apostou em mim.
— Se não fosse jogador de futebol, o que seria? Que idealiza para quando pendurar as botas? Vai continuar ligado ao futebol, de alguma forma: treinador, empresário?
— Não sei. O futebol é muito bonito. É muito difícil deixar de lado, de um dia para o outro, tudo o que encerra o futebol. Treinador... não sei. Agente, também não decidi. Mas deverei fazer algo ligado ao futebol. Adoro futebol. Respiro futebol.
— O que ambiciona ainda da vida? Qual o sonho que não realizou?
— Ganhar um título no Benfica!
— Como gere as suas poupanças, a pensar no dia em que deixar de jogar? Deposita no banco, compra terrenos?
— Tento viver bem, que não falte nada à minha família. Isso é o mais importante. Depois, quando acabar o futebol, veremos.
A Bola, 25 Julho 2008 |
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